quarta-feira, 13 de maio de 2009

Tempestade

A inquietude de Teresa é clara. Há já algum tempo que anda de um lado para o outro em passos largos sem razão aparente. O longo vestido branco que tem vestido acaricia a superfície da carpete da sala e com as mãos trémulas encaminha o copo de absinto à boca que se escoa lentamente pela garganta dorida. Decide sair de casa para aquietar a fúria. Os olhos estão cobertos por uma névoa branca que dificulta a terrível vontade de focar.
Num acto tosco, tropeça num tronco de árvore perdido no passeio e desata-se a rir. Achava que a sua existência era em quase tudo semelhante à daquele tronco morto na rua. Ou pelo menos era isso que as vozes lhe sussuravam ao ouvido. E acreditava porque não havia qualquer razão para não acreditar.
Durante o passeio, é surpreendida por uma chuva chata que lhe provoca espasmos visuais. Vê-se obrigada a fintar riscos luminescentes e disformes que se entrelaçam no seu caminho, criando uma espécie de carrocel antigo.
As nuvens começam a aproximar-se. Vê as pernas esticarem-se no ar ao mesmo tempo que sufoca num pedaço de tule cinza. Pressente a tempestade. O ruído do vento forte insinua-se nos seus ouvidos provocando-lhe suores frios. Mas os pés sóbrios continuam a trabalhar levando-a por um caminho sinuoso e inconstante.
Após um raio estrondoso, ouve finalmente os gorgolejos do Testa Azul. Sabia que o encontraria ali, reflectido na água tépida do rio Lave. O aspecto pomposo da sua penugem verde musgo transmite a Teresa um indescritível apaziguamento de sensações.
Assim, empoleira-se na margem do rio e passa com os dedos naquela imagem imutável. Os seus contornos estremecem ondulantes mas logo voltam à sua forma original. Teresa está agora em paz.

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