terça-feira, 19 de maio de 2009

Dedo pedinte

O desejo de pôr o dedo no ar para falar diante dos outros por intermédio do pensamento carrega em si mesmo o significado do escroto decrépito que nos faz rir. O dedo é pedinte quando pede o ar que respira só para si. A partilha aqui torna-se nula por contraste à imensidão do dar moedas cunhadas a mulas do campo.
O dedo pedinte é um animal de hábitos incontrolados e mal-vistos pelos que estão de fora. A criação de rotinas desprovidas de sentido complica a compreensão do comum mortal; as velas que ardem ocupam-lhe o espaço livre do pensamento de fumo (que não interessa a ninguém), vertem cera para dentro das narinas hostis. Tudo pela guerra do petróleo. Vadia.
O dedo pedinte tem a unha torta e balanceia-se hirtamente no ar imprevisível. Invisível. Comestível.
Os dedos pedintes que arrancam os dentes à dentada não podem nunca ser submetidos a cirúrgias invasivas. Lascivas. Sensitivas.

- Posso fazer uma pergunta? - pondo de imediato o dedo no ar.

- Força - diz-lhe o outro, atrás da árvore.

- O que são caixas vazias?

- Ninguém sabe.


Ilustração por Gordo

Sem comentários: