sexta-feira, 29 de janeiro de 2010


http://www.joelcooner.com/.../wrestle-closer-d_7416.jpg

o chá da vulva

Que linguagem sôfrega da mão
nos mamilos brancos
em corpo de leite derramados
e que deleite,
e que convulsão,
ouvir o gemido sagaz
ao ouvido da vulva cálida,
tão voraz
que anseia pálida
mel ejaculado no regaço
e que opulentas cuecas
junto à perna da cama
em sono profundo
cansadas

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Lassa

Outrora ínsua de braços em pólvora e chapéus em espiral, à mercê dos desígnios do pranto salgado e das mulheres de buços brutos serenados pelos raios de sol de Maio, Lassa parece ter sido exilada da Terra. Não mais se ouviu o seu espreguiçar. Atroz languidez que se despenhou aos ziguezagues por quelhos esconsos que um dia viram passar um homem de capachinho na mão, intrigado com o aparato fogueteiro que queimava o céu constelado. Cecília ainda se recorda da Lassa antiga, aquela das cervejas condimentadas com pimenta das Arábias, dos toques das campainhas que se desfaziam em pó nas mãos das criancinhas, das correrias, do pão, da lezíria e dos juncus marginatos. Não mais pensou em entregar-se de novo àquela cidade estonteante que a viu tornar-se mulher. Quando ela passava pela pracinha do centro não havia olhar masculino que não se revirasse de tesão, muito menos mulher que não comentasse o seu decote cuidadosamente bordado à mão. E numa madrugada em que o vento fazia as flores do prado roçarem umas nas outras, dando a impressão de sussurrarem baixinho, Cecília fez as malas e deixou Lassa. Talvez tenha sido por isso que Lassa deixou de ser a mesma. Talvez a imagem de Cecília, de costas voltadas para a ínsua, num barco de pescadores a trabalhar vagarosamente tenha despertado tamanha tristeza. Lassa é agora a ínsua dos desgostosos, dos que caíram no vazio da alma, dos expatriados, dos marinheiros enxovalhados.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

circo de zebus

Da mesma maneira que o sangue da noite estancou, a alma em flecha e o circo chegou à cidade. A tenda amarelo amendoim desmaiada pelo sol, qual testa que esbarra contra o chapéu do ilusionista e uns quantos lémures no apêndice vermelho-coral. A arena vestida de camelo e descuidadamente suspensa no ar atiça os dentes do zebu que por terem sido serrados à pressa pelo veio da navalha reproduzem em câmara lenta as mãos da criança cravadas nas pregas vincadas do vestido em forma de leque. Xeque-mate! Os malabaristas estátuas, em pose vigilante, de cócoras vergados, como se esperassem as planícies fátuas aguadas de tesão. É a vez do ruído das rodas da jaula octogonal rutilante, do vapor menta-hortelã, das narinas rectas e peganhentas. Plateia muda, apenas o rumorejo dos zebus que só pensam em andar ao verde. E nisto, tromba erecta derruba bancadas e expressões esfrangalhadas. Chamam por Vénus vezes sem vez e o que vêem são esquinas de boca esbranquiçadas. (o elefante entra em cena); o circo não mais tornou a ser o mesmo, tomou posse da carne da viúva, do aleijado, do cabrito desdentado, encabritando-se em confrontos de braço de ferro, cuja violência se assemelha à natureza do homem. Poder-se-ia perguntar: e o servo inútil?, e aí sim, ouvir-se-ia, com uma voz rouca e encrespada: Quanto ao servo inútil, lançai-o às trevas exteriores. Aí haverá choro e ranger de dentes. Palavra da salvação. Ámen.


quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

kubaza

planície casca de laranja (Octávia) cidade teia de aranha

Faltou-lhes bengala entre as... Barrete! Fugiram com a massambala e a bunda entre as pernas, andar trôpego entupido, marufo que escorrega, desinibido, ponto de fuga, sugado, sanguessuga arame farpado choramingou um tipo fajuto derrotado.
Voltaram quando deixaram de acreditar em alunagens. Em paisagens púrpuras, moinhos de vento tricotados em lã, esculturas esculpidas, rebuçados de cobre e arre! sou filho da puta e se me sento jamais me levanto e se me deito jamais adormeço na minha despensa conservada trancada à chave ao lado de atuns e desnatados.