quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Folhadão de Frango com Caril

Ingredientes

- 4 peitos de frango
- 1 cebola grande
- 2 dentes de alho
- cogumelos portobello (uma embalagem)
- 1 pimento verde
- 1 pimento vermelho
- margarina
- sal
- gengibre
- orégãos
- açafrão das índias
- pimenta preta
- duas colheres de sopa de caril
- limão
- natas porcini
- massa folhada congelada
- gema de ovo
- pedacinhos de bacon fritos

Preparação do recheio

Antes de mais, pré-aquecer o forno a 200º C.
Cozem-se os peitos de frango num tacho e adiciona-se sal. Num almofariz, esmagam-se os dentes de alho, sal, pimenta, caril, sumo de limão, orégãos, açafrão das índias e gengibre. Numa frigideira grande, derrete-se um pouco de margarina e a cebola picadinha e deixa-se alourar. Juntam-se os pimentos cortados em tirinhas, os cogumelos portobello e a papa anterior envolvendo-se tudo com muita paixão. Depois, acrescenta-se o frango já desfiado e rectificam-se os temperos (sal , pimenta moída no momento e caril). Por último, adicionam-se as natas porcini.

Preparação da massa

Forrar uma forma (redonda, de preferência) com metade da massa folhada, espalhar o recheio ainda morno e cobrir com a massa restante. Por último, pincela-se agema do ovo, adicionam-se os pedacinhos de bacon frito e vai ao forno por 20 minutos. Delícia!

Receita de: Anocas Ardente

Verde trópico

violai os ossos
loucos varridos
do rapaz-tordo
outrora capitão de uvas bravas
conta a boca do falatório gordo

Estêvão passeava de burro – acolá
atrelado aos seios amarelos
da prostituta de corpo em chama
outrora mulher de arroz
massemba de cama.

cacimba
dança das carnes
sujas de vodka
e carentes de sal

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

“Sim…sim!” E.M. de Melo e Castro

o poeta é a merda do universo: possui todas as características do dejecto. Concentra em si a digestão do gesto; a genofagia do êxtase; a plasto_contracção do fluído; a cagoécia espan_torreica do astro; a feno_inflação do susto; a culo_táctica alviltrante do entre; a conges_tomatia da fúria; a subru_ptura do esfincter; a tirano contúcia do tesão; a espro_tuberância dos dedos; a ultra_fragância cliotoriana da nuvem; a proto_putática do cio; a venusiana contursão do ingesto; o factócio odor da pituito_gonoraica alga; a fundibular arrogância do ronco; a inco_butência lacunar do humor; a factoécia consistência da cístole; o infrutífero agosto do genefágio; o estro da alti_contur_bância da bacia;a penis implacência da pes_nínsula; a fictofinura insinular da inflo_strutura; o oginato fulgor do anão anal; a para_pirotécnica do sobre; a ficta inflogestão do gestual subje_ctinvo; o adjecto fragor do estrondo; a fúricaarragância do cilindro; a exalo ternura da ubstância mole; o facto falância mulhada; o duro durão do melotão; a igno rrância das bactárias; a ultra pante_rroico fulminância; a coiso coisíssima nenhuma.

http://www.truca.pt/raposa_textos/poesia_34_melo_castro.html

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Relógios Falantes

Nos relógios falantes encontram-se dialogando o relógio das Chagas e o de Belas, ambos a consertar no serralheiro. As suas considerações constituem também uma censura aos costumes do tempo, dos validos, da moda, etc. Por fim, o tom é mais grave, e fala-se na velhice e na morte.
Relógio da Aldeia. Senhor Relógio da Cidade, badalemos limpo, que as paredes ouvem, e as de campanários nunca foram de segredo.
Relógio da Cidade. Olhai ora cá: se o estar sempre à dependura me não me há-de valer para tirar o medo de não morrer enforcado, melhor é acabar logo por ua vez!
R.A. Cal-te, que te fundirão!
R.C. Pois que importa? Farão de mim campainhas, e então lhes direi por cem bocas o que não querem ouvir de ua. Par Deus! mas que me fundam, mas que me confundam, eu hei-de tanger sempre a verdade!
R.A. Por isso tu cá vens por mentiroso. Diz que a verdade, na língua dos que a não falam, e como a água do Chafariz de El-Rei, que, por correr por canos de enxôfar, sempre faz mal ao fígado.
R.C. Fígados há aí tão danados, que da água pura e clara fazem peçonha.
R.A. E tu, amigo, que ganhas em desenganar o mundo, que se não quer desenganar? O sumo grau da sandice é perder-se um pelo ganho do outro.
R.C. É nobreza de coração, e ainda proximidade, não deixar perseverar a ninguém no seu engano.
In Relógios Falantes, de D. Francisco Manuel de Melo, escritos de 1654 a 1657.
Ao contrário da maioria das raparigas do seu tempo, Luísa nunca quis casar. Desprezava a ideia do amor oficializado, burocrático, guardado numa prateleira conspurcada pela traição e pelo egoísmo. Na juventude, aprendeu desde cedo a amar o corpo, em todas as suas formas, e a respeitar a natureza carnal do homem. E sempre que o vento trespassava o tecido delicado da saia rodada e lhe atiçava o sexo masturbava-se, roçando as pernas devagarinho.
Nunca foi mulher de um, mas de muitos. Era raro o homem que não se deixava seduzir pela sua figura voluptuosa e carnal. Os olhos ligeiramente descaídos na ponta e os seios gordos e firmes sussurravam tesão ao ouvido de sexos duros. Luísa perdeu a virgindade com um rapaz, filho de um soldado das ex-colónias.

Imortalidade

No céu, cavalos brancos com pernas longas lutavam exaustivamente com o vício que lhes apontava o dedo. Ouvia-se o sopro de um homem que se ergueu nu no topo de um relógio, segurando na mão uma cruz de madeira. Luísa estava no centro do altar presa a uma criatura miúda e frágil, com orelhas entrançadas e seios minguados. Verteu no copo línguas de uvas pisadas e juntou as mãos em sinal de oração. Trazia vestido um traje medieval, com uma corda atada à cintura. No cimo do monte, um caixão dourado, reluzente, com duas cabeças tortas dentro e “IMORTALIDADE” inscrita num dos lados do caixão. Da sombra, assomou uma linda mão de mulher que lhe esmagou o crânio até este dar sumo.
Luísa acordou em sobressalto e olhou para o relógio na mesa-de-cabeceira que marcava as cinco da manhã. Observava fixamente o tecto amarelado, entristecido pela humidade do Inverno passado. Abriu a boca quase selvagemmente e alongou o pescoço de forma desengonçada como se acordasse pela primeira vez.
"Com onze canecas de cerveja e sete gins brincando às escondidas no bucho, caiu do primeiro degrau e só parou lá em baixo. (...) Era a noite de sábado, o melhor, o maior, o mais alegre pedaço da semana, um dos cinquenta e dois feriados na roda lenta do ano, um violento preâmbulo para um domingo de prostação. Paixões acumuladas estoiravam na noite de sábado, e os efeitos de uma monótona semana de trabalho nas fábricas eram expulsos do corpo em explosões de euforia. Seguia-se a grande máxima «bebe e diverte-te», deixavam-se os braços nodosos apertados em torno de uma cintura feminina e a cerveja a deslizar beneficamente pela garganta a baixo, direita à capacidade elástica do estômago."
In Sábado à noite e domingo de manhã, de Alan Sillitoe

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009