quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Imortalidade

No céu, cavalos brancos com pernas longas lutavam exaustivamente com o vício que lhes apontava o dedo. Ouvia-se o sopro de um homem que se ergueu nu no topo de um relógio, segurando na mão uma cruz de madeira. Luísa estava no centro do altar presa a uma criatura miúda e frágil, com orelhas entrançadas e seios minguados. Verteu no copo línguas de uvas pisadas e juntou as mãos em sinal de oração. Trazia vestido um traje medieval, com uma corda atada à cintura. No cimo do monte, um caixão dourado, reluzente, com duas cabeças tortas dentro e “IMORTALIDADE” inscrita num dos lados do caixão. Da sombra, assomou uma linda mão de mulher que lhe esmagou o crânio até este dar sumo.
Luísa acordou em sobressalto e olhou para o relógio na mesa-de-cabeceira que marcava as cinco da manhã. Observava fixamente o tecto amarelado, entristecido pela humidade do Inverno passado. Abriu a boca quase selvagemmente e alongou o pescoço de forma desengonçada como se acordasse pela primeira vez.

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