sábado, 13 de março de 2010

O Escultor Argentino

Há já uma semana que não parava de chover na região de Los Andes. Os lagos e rios transbordavam o leito e isso inspirava-o quando se masturbava à janela do primeiro andar que alugava a um senhor de cabelos grisalhos, reformado dos cadernos da poesia, sempre bem acompanhado por uma bengala e um charuto pendurado no canto direito da boca.
Era uma casa discreta, simples, situada na parte norte da cidade de Chapelco. Orgulhava-se de precisar apenas de um colchão para dormir e de pratos e talheres para comer. Desprezava ostentações inúteis, como os tapetes ou os cortinados que dizia serem um capricho dos homens. Aimón admirava, sobretudo, a simplicidade da casa, a sua alvura, a luz da manhã que penetrava pela janela despida que dava para uma pequena praceta.
Era um homem solitário que raramente se entregava à volúpia e às tentações da carne. Amava as artes, particularmente a escultura que lhe transmitia sensações díspares de espiritualidade, alegria, dor e tesão. Mas sempre que, a caminho do trabalho, passava por aquela casa azul não resistia a dar uma espreitadela receosa, imaginando por instantes fazer daquele mundo clandestino, como se uma daquelas sombras voluptuosas fosse a sua própria sombra.
O escultor, como era conhecido na cidade, comia à pressa uma carbonada quando ela entrou de rompante, sacudindo o casaco ensopado, depois de pousar o chapéu-de-chuva ao lado da porta empenada. Atravessou o tasco em direcção à casa de banho e saiu tão rápido como entrou. O choque de Aimón foi instantâneo, quase voraz, ao ver entrar aquela mulher mestiça, vestida de vermelho, o cabelo entrançado a beijar-lhe o ombro. Sentiu-se inquieto e desnorteado, como se o seu peito tivesse entrado numa angulosa espiral de pressão que lhe espevitou o pau de fumo. Pensou se se atreveria a segui-la, se teria coragem. «Não», pensou de instinto mas logo foi impulsionado por uma vaga de sensações que o fizeram levantar-se da cadeira e deixar a carbonada ainda morna no prato de barro.
Ansiava saber quem era aquela mulher de pele cor de café, o que fazia e para onde iria com tanta pressa. E lá foi ele, de peito erguido, com ar sobranceiro, às vezes vacilante. Por sua vez, ela abanava as ancas prometedoramente, evidenciadas pelo vestido de malha fina que se colava à sua pele, como um filho se agarra à saia da mãe. Os peitos estavam gordos e avolumados, como dois globos que indicam o caminho para Sicília. Tinha os tornozelos inchados e a barriga era proeminente, altiva, dominante. «Deve estar no sexto mês de gestação», pensou o escultor.
Mas, a dada altura, Aimón interrompeu o passo. Estagnou ao ver a mulher de vermelho entrar na casa azul, a famosa Casa de las Putas situada parte rica da cidade. Nem queria acreditar. Questionava-se se seria o destino ou mero acaso. Depois de alguma hesitação decidiu entrar. A atmosfera exalava fumo pelas orelhas, o ambiente estava quente, a decoração fantasiosa e albergava camas que se perdiam de vista. Pediu para falar com a mulher que acabara de entrar à madame vestida com uma camisa de dormir azul translúcido, com duas mangas borboleta. A boquilha era longa, demasiado longa até, visto que a ponta do cigarro quase lhe osculava o nariz. Sem pronunciar uma palavra, a madame apontou indiferente para uma pequena divisória, deixando cair as beiças num copo largo de mojito. Aproximou-se e viu a sombra da mestiça passear-se pela parede e a acomodar-se num cadeirão de pele preta. Tinha agora o cabelo solto, crispado e negro como o carvão.
Debruçada em frente ao espelho, com uma das pernas apoiadas no braço do sofá, convidava à entrada. Apertava incessantemente os bicos de Vénus contra o outro enquanto friccionava com os dedos o alagadiço buraco da coruja. Acariciava a barriga saliente e fazia expressões libidinosas e ele, escondido na penumbra da porta, deixou escapar um gemido arquejante que ecoou pela casa. Levou de imediato a mão à boca mas era tarde demais.
«Podes entrar, se quiseres, e olhar para mim. Gosto de ter público e já vi que gostas de barrigas grandes». Aimón aproximou-se, comprometido pelo volume da bengala dobrada dentro das calças, e sentou-se à beirinha da cama. Admirava cauteloso a amazónia riça da sua púbis, os lábios anafados que protegiam o seu delicioso banco de esperma. Estava molhada e contorcia-se morosamente, dado o peso do ventre gigante. Veio-se, enfim, com um grito profundo e a tromba de elefante de Aimón cabriolou ao ver a fenda babar-se de prazer.
O corpo estava agora mais saciado. Faltava apenas acender um cigarro para que o sentimento de descontracção atingisse a sua plenitude. Mas logo notou que estava sozinha. Aimón tinha abandonado sorrateiramente o quarto e saído pelas traseiras da casa, com o zezinho molhado entre as pernas.

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