quinta-feira, 22 de outubro de 2009

O relógio na outra margem do rio

Era uma vez três irmãs que viviam numa casa muito pequena. A mais velha, Luciana, era muito alta e estava sempre a bater com a cabeça no tecto. Diana, a irmã do meio, tinha os pés muito grandes e, todos os dias, tropeçava nos cantos dos móveis da casa. E Belinha, a mais nova, via muito mal e nem as grossas lentes dos óculos a impediam de perder-se pela casa.
Já estavam deitadas quando alguém bateu à porta. Truz, truz! – ecoou pela casa. Era de noite e chovia a potes. Olharam umas para as outras, apavoradas, e emudeceram, pois sabiam que a noite pertence aos gatos pardos. Mas as pancadas na porta não pararam. Então, pé ante pé, Diana levantou-se da cama e afastou devagarinho a cortina florida da janela.

- É um anão! Parece estar cheio de frio, coitadinho. Vamos abrir-lhe a porta. De certo que não nos fará mal – disse.

- Nem pensar! Não são horas para receber visitas. Já é tarde! – contestou a mais velha.

- Mas e se estiver a precisar de ajuda? Devíamos ver o que se passa – convenceu Diana.

E assim foi... A Luciana, ao levantar-se, bateu com a cabeça no tecto e ganhou mais um galo; A Diana tropeçou no tapete e caiu em cima da estante dos livros; e a Belinha estatelou-se contra a porta do quarto, ficando para trás.

- Quem é? – perguntaram, com a voz trémula.

- Estou perdido e tenho muito frio, por favor, ajudem-me! – ouviu-se do lado de fora.

Abriram a porta, com cuidado, mas as bochechas coradas do anão logo enterneceram as três irmãs que o convidaram a entrar. Estava vestido com um enorme macacão azul e uma carapuça grená que parecia um cogumelo.

- Para agradecer a vossa hospitalidade, vou contar-vos um segredo. Mas têm que prometer que não contam a ninguém, senão... – disse o anão, aquecendo-se à lareira.

- Conta, conta, anão! – exclamaram as três irmãs em uníssono.

- Há muitos, muitos anos atrás, o Grande Mago dos Sonhos lançou um feitiço no cimo destas montanhas.

- Um feitiço? - perguntou Diana, com uma expressão sobranceira.

- Criou um relógio capaz de transformar os sonhos em realidade. Ainda hoje permanece escondido no tronco oco de uma árvore. Está aqui o mapa – tirando uma folha amachucada do bolso.

As três irmãs ficaram em êxtase. No dia seguinte, ainda o sol não tinha nascido, rumaram até ao cimo das montanhas para procurar o relógio.

- Olha, olha, ali ao fundo... Está ali a árvore que o anão falou!!! – gritou a Luciana, apontando para um tronco seco na outra margem do rio.

- E agora? No mapa não existe nenhum rio. O anão tramou-nos! – clamou Belinha.

O ânimo das três irmãs esmoreceu. Mas Diana logo teve uma ideia capaz de as levar até à outra margem.

- Estão a ver aquele sapo gigante? De certeza que aceitará ajudar-nos! – exclamou, aproximando-se devagarinho do animal que dormia uma sesta.

E assim foi... O sapo aceitou o pedido das três irmãs e, uma de cada vez, saltaram para as costas do sapo e atravessaram o rio. Descobriram, finalmente, o relógio mágico, banhado em ouro, e fizeram tal e qual como o anão lhes tinha dito. Rodaram os ponteiros retorcidos e enferrujados e marcaram as três horas. A Luciana pediu para ser mais baixa, a Diana pediu para ter os pés mais pequenos e a Belinha pediu para ver melhor.
Quando regressaram a casa, as três irmãs espantaram-se ao ver que saia fumo da chaminé. “Está alguém em casa”, pensaram e quando abriram a porta viram o anão de pijama refastelado no sofá da sala.

- Mas, mas... Conseguiram atravessar o rio? Encontraram o relógio? – perguntou, surpreso.

- Devias ter vergonha! Não és mais bem-vindo nesta casa! – apregoou Diana, enxotando o anão para fora com uma vassoura.

E nunca mais ouviram falar no anão charlatão que não acreditou na força e perseverança das três irmãs.

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