segunda-feira, 8 de junho de 2009

Estrada das papoilas rubras

Quando o sol está baixo, o soldadinho de chumbo - o Vasquinho - atravessa o rio descalço para procurar bivalves escondidos atrás das rochas. Às vezes encontra mesmo maços de espermatozóides absurdamente grandes, gigantes, que estorvam o caminho às sardinhas. Dão todos as mãos em tom de perdão por sentirem o ar roçar nas pernas do Vasquinho.

- Atirem-no da ponte rápido. Eles estão a chegar - gritam exaltados.
- Estou perdido! - desabafa a vítima.

Pedem-lhe para repetir a estrofe vazia que disse há instantes. Recusa e enumera temas de conteúdos chatos, espalmados, chapados pelas mãos duras do Vasquinho.
Ó Vasquinho!!!
Ó Vasquinho!!!
Encosta-te à proa do barco e descansa. Desiste. Bebe à saúde do teu estômago que está vazio e embebeda-te. O álcool aninha-se no interior e combina o movimento circular com a cabine do senhor que vende robalos ao virar da esquina.
Decidem deixar o Vasquinho no meio de uma estrada sem início coberta por papoilas
rubras e girassóis.
Sozinho, o Vasquinho ficou a chorar.

---

Quando o camionista estendeu a mão para auxiliar o menino caído no chão, pensou duas vezes e hesitou. "Quem sou eu senão um monte de conselhos desapropriados à ocasião criada exclusivamente por mim?"
Então aí acobardou-se e virou costas. Inclinou ainda a cabeça para ver o que se passava atrás de si mas o homem continuava preso ao chão. Deu mais dois passos e parou novamente. Decide olhar mais uma vez e os olhos enchem-se de lágrimas.

- Precisa de ajuda? - disse-lhe estendendo-lhe ingenuamente a mão.

- Estou a dormir. Deixe-me em paz! - responde rabugento.

Ora bolas!

Sem comentários: