quinta-feira, 2 de julho de 2009

O caixote do lixo

Aos homens da minha terra, escrevo e vivo sob a eterna mente de ser, estar, agir. Querer. Vejo crianças que correm para não matar o bicho que vive numa garrafa de plástico meio cheia de coisas, artimanhas. De manhã bem cedo atravesso o rio de botas e cumprimento os caixotes de lixo.
Era uma vez um caixote de lixo meio vazio de coisas, estranhas, dos outros. Deu-me os bons dias e despediu-se com um sorriso envergonhado. À sua frente, não estavam nem cadeiras nem frigoríficos antigos. Nem facas usadas, nem latrinas. O exterior cheirava a rosas (?) e pedia para ser incomodado e abraçado. As rodas traseiras estavam oleadas, frescas como um lírio que tresanda a espirros de outrém bem-vindo.
Embaraçado, o caixote do lixo pediu-me desculpa e fechou a boca. Ficou vazio de palavras, cheio de tesão nas beiças verdes largas. E então envergou-se. Vergou-se. Derreteu e vendeu-se ao chão - miserável o cabrão. Desleixou-se ao cair em si, atirando-se para dentro e não encontrando saída aberta.
A direcção dos caminhos opostos é complicada. Fico desnorteado pela estrada que conduzo e escrevo - eventualmente numa rua envenenada por fora - e decido pôr creme nas costas para acalmar a pele. E no meio disto tudo pergunto-me porque é que sobem montanhas sem pés. Só com braços e pescoço para se inteirarem do que se passa do outro lado da parede crua. Sentem corpos nus a roçar nos cantos frios da sala, gemidos que atormentam o lugar íntimo de uma mulher. Qualquer.
À vida que gira em torno da sedução porque somos todos criaturas sedutoras. Passamos a vida a pedir atenção. Ajoelhamo-nos para que reparem em nós e não conseguimos deixar de rir quando nos respondem finalmente. Eu transpiro sexo. Eu preciso de sexo. Ninguém vive sem SEXO. E quem vive, vive ao lado.

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