quinta-feira, 13 de maio de 2010

Sonho de Hipnos

Não sei se durmo ou se estarei acordado. Mas sinto-me velho. Tenho o bigode despenteado de tanto amimar a almofada e não acho a parte de cima do meu pijama geométrico. De certo que estarei dentro de um sonho. A minha realidade sonhada. Remexo a cabeça e não encontro nenhuma visão do mar. Pois o que significará o mar para mim senão uma onda de força inatingível que me deixa perplexo a cada visão sua. Rendido, ainda tentei apanhar a cabeça que entretanto se desprendeu do meu pescoço e começou a rebolar colina abaixo, até embater contra uma rocha coberta de musgo que me pareceu macia. Lembro-me do campo de tulipas que um dia hei-de visitar. Ao longe, parece um campo de malaguetas com a ponta acesa onde acendo o segundo cigarro do dia. A partitura invisível, em estado selvagem, movimenta-se em torno do meu próprio corpo, composta ora por sopros de árvores, ora por espirros de peixes ao luar. Acredito no Deus que somos todos nós, homens e corvos. Acredito naquilo que vejo e não naquilo que os olhos me dizem. Para quê olhar (pois se tudo é luz-ilusão) quando podemos ter todas as sensações depois de adormecer. Vivo ciente das ciências da natureza. Não distingo cores, formas ou consistências. Tudo consequência das sopas de cavalo cansado que me davam de comer ao pequeno-almoço. Quando comecei a salivar uma cubana de ancas largas caiu desamparada em cima de mim. Não aguentei a pressão. Tudo ficou escuro de repente, pois ela trazia uma saia que lhe chegava aos pés, de tecido grosso alaranjado. Belisco a pele frenética em busca do sentido real das coisas mas ela fica irritada e grita-me que volte a mim. Eu consinto e baixo o pescoço porque a cabeça já era!

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